Futebol virou programa de sofá?
Milton Aldana - 30/10/2014
Sou
testemunha viva. Era um prazer, e um divertimento assistir uma partida de futebol no estádio, até início dos anos 80. Que era possível haver partidas, inclusive
clássicos, com torcedores misturados na arquibancada, sem necessidade de
barreira, de policiamento fortíssimo. Que dava até para levar as crianças numa
boa, com segurança. Que a rivalidade em campo se restringia exclusivamente ao
jogo, ao futebol, ao esporte, e nunca era extrapolada para inimizades,
agressões, violências gratuitas. Que um placar de jogo era só um placar de jogo
e não um decreto de morte.
Quem
mudou essa história foram as torcidas organizadas. As gangues armadas de
desmiolados. Há anos, propõe-se cadastrar esses sujeitos, proibi-los de ir ao
estádio, desarticular as agremiações. Parte dessas medidas está prevista no
Estatuto do Torcedor, que é lei federal desde 2003.
Mas, de que adianta? As coisas só pioraram nesses dez anos. O corintiano que
esteve preso na Bolívia após a morte de um adolescente se envolveu em briga
contra a torcida do Vasco logo que foi solto. Banido dos estádios com base no
Estatuto do Torcedor, ele burlou a proibição e compareceu em um jogo contra o
Grêmio apenas dois meses depois.
Então,
não adianta dizer que o sujeito está banido dos estádios por alguns meses. Isso
não vai contê-lo. Tem que reprimir e proibir a existência das torcidas
organizadas. Tem que adotar leis mais severas -- que precisam ser cumpridas --,
assim como a Inglaterra fez para conter seus hoolig
ans, que eram tão agressivos
que, em 1985, causaram a morte de 38 pessoas em um
único jogo. Naquele país, a própria federação inglesa baniu seus
clubes das competições europeias por cinco anos. Suas leis preveem, além de
prisão de até quatro anos, banimento dos estádios por até dez anos, inclusive
fora do Reino Unido, para os que se envolverem em confusão. Em caso de
reincidência, há previsão de afastamento dos campos para sempre. Também há
multas pesadas, grande policiamento e vigilância intensa com câmeras.
Resultado: a violência caiu e os hooligans estão sumidos pelo menos desde 2006.
O que eu sei é que não
dá para continuar assim. Tendo medo de ir ao estádio para torcer pelo meu time
e, pior, chego até mesmo a ter medo de andar pelas ruas vestindo uma cor
específica (que dirá uma camisa oficial).
É preciso acabar com essas gangues organizadas e agir de forma
mais severa contra torcedores-bandidos encamisados e nada organizados.
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